O campo da robótica vem sendo explorado por profissionais das mais variadas especialidades. A medicina é uma das áreas em que a tecnologia tem se mostrado promissora, principalmente para auxiliar procedimentos complexos.
Um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), decidiu aplicar a robótica em um hospital, mas com um foco diferente, oferecendo apoio social a pacientes em vez do suporte técnico aos médicos.
O público-alvo, no caso, foram crianças internadas no UCLA Mattel Children’s Hospital, que receberam visitas de um robô chamado Robin.
Uma das principais conclusões do estudo foi que a companhia do robô ajudou a promover uma visão mais otimista nos pacientes, além de melhorar as interações com a equipe médica.
Como foi feito o estudo
Entre outubro de 2020 e abril de 2021, especialistas do Chase Child Life Program do UCLA Mattel Children’s Hospital conduziram visitas por vídeo, com duração de uma hora, a crianças que estavam internadas.
Essas visitas foram feitas de duas formas diferentes. Uma delas consistiu em chamadas de vídeo por meio de um tablet comum. Já a outra utilizou o Robin, um robô de 1,20 metro capaz de se mover, falar e brincar, que era controlado por humanos.
Após concluir o período de visitas para o estudo, os pesquisadores entrevistaram as crianças e seus responsáveis para avaliar suas experiências, comparando as duas estratégias — chamadas de vídeo por tablet e a solução robótica.
Especialistas em desenvolvimento infantil também coletaram feedbacks em um grupo focal, e os pesquisadores utilizaram uma transcrição do debate para analisar temas relevantes e recorrentes.
O estudo será apresentado no dia 11 de outubro durante a Conferência Nacional da American Academy of Pediatrics (AAP).
Crianças relatam uma melhora de 29% no afeto positivo
A partir dos dados coletados sobre as experiências de pacientes e seus responsáveis, os autores do estudo identificaram percepções divergentes de acordo com cada grupo. Ainda assim, no geral, a aplicação da robótica como ferramenta social apresentou resultados promissores.
Cerca de 90% dos pais indicaram uma alta probabilidade de solicitar mais uma visita do robô aos seus filhos, enquanto que no caso das interações com tablet essa mesma resposta obteve 60% dos votos.
O motivo dos pais que receberam a visita do Robin se mostrarem dispostos a continuar com a experiência não está relacionado a um aumento do afeto positivo necessariamente, mas uma redução no afeto negativo.
O afeto positivo refere-se à tendência de um indivíduo perceber o mundo de uma forma mais otimista, o que inclui suas emoções, interações com outras pessoas e a forma como encaram os desafios da vida.
Os pais relataram que não houve uma mudança no afeto positivo das crianças após a visita do robô. No entanto, eles observaram uma queda de 75% no afeto negativo. Já os pais cujos filhos receberam as visitas por tablet afirmam que houve um aumento de 16% no afeto positivo, mas nenhuma alteração no afeto negativo.
Ao analisar a percepção das crianças, os pesquisadores observaram uma divergência nos resultados. Os pacientes que interagiram com o Robin relataram uma melhora de 29% no afeto positivo e uma queda de 33% no afeto negativo. As crianças que utilizaram o tablet observaram uma queda em ambos — 43% no afeto positivo e 33% no negativo.
Outro ponto observado no estudo é que as equipes médicas relataram que o uso da robótica para realizar as visitas resultou em uma melhora no senso de intimidade com os pacientes, além de promover um maior engajamento dos profissionais com cuidados sociais e facilitar as práticas de manutenção do controle de infecções.