Quando o assunto é robótica, algumas das principais discussões que surgem giram em torno das oportunidades de inovação que ela pode trazer e os prejuízos que pode causar ao mercado de trabalho. 

No entanto, uma nova pesquisa sugere que a tecnologia está sendo adotada para suprir a falta de mão de obra devido ao envelhecimento da população. 

Ou seja, as empresas recorrem à automação por necessidade em vez de serem motivadas exclusivamente por uma busca por inovação. Além disso, em alguns dos casos estudados, os robôs não “roubam” o emprego de humanos, mas ajudam a ocupar as vagas remanescentes. 

O artigo “Demographics and Automation”, publicado na revista acadêmica “The Review of Economic Studies”, reúne evidências que mostram uma relação causal entre a adoção da robótica e essa alteração demográfica em determinados locais. 

Países enfrentam falta de mão de obra

Para o estudo, foram coletados dados demográficos, tecnológicos e outros relacionados à indústria que cobrem o intervalo entre o início dos anos 1990 e meados da década de 2010. Uma das primeiras descobertas foi a relação entre uma população economicamente ativa em processo de envelhecimento e a adoção de robôs em 60 países.

De acordo com o estudo, o fator “envelhecimento” foi responsável por 35% da variação no uso de robôs em diferentes países e por 20% na importação de robôs. A Coreia do Sul foi classificada como o país que apresenta o envelhecimento populacional mais acelerado ao mesmo tempo em que também é líder na implementação da robótica. 

O padrão não se aplica apenas à robótica, no entanto. Ao analisar os dados da indústria em 129 países, os pesquisadores perceberam que a adoção de outras tecnologias, como máquinas controladas por algoritmos ou ferramentas automatizadas, também está relacionada ao envelhecimento. 

Suprir falta de mão de obra ou reduzir custos

Uma das principais preocupações em relação à crescente implementação da robótica são os impactos no mercado de trabalho. O que a pesquisa descobriu foi que existe uma diferença entre adotar a automação como resposta à falta de mão de obra e adotá-la apenas para reduzir custos e substituir trabalhadores humanos. 

Em países como a Coreia do Sul, Japão e Alemanha, que são líderes em investimentos em robótica e cujas populações economicamente ativas estão cada vez menores, os impactos negativos da tecnologia no mercado de trabalho foram muito menores que em outros locais. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, investir em robótica para reduzir custos com a mão de obra humana é uma estratégia comum, o que gera prejuízos para o mercado de trabalho. Ainda assim, a pesquisa descobriu que o envelhecimento populacional também influencia a automação no país. 

Ao analisar 700 zonas cobertas por serviços de metrô entre 1990 e 2015, considerando fatores como a composição industrial da economia local e tendências de trabalho, o estudo encontrou o mesmo padrão global. 

Segundo os dados, um aumento de 10% no envelhecimento da população local resultou em um acréscimo de 6,45% na presença de empresas especializadas em robôs industriais na região. 

O estudo faz parte de uma série de outros artigos publicados pelos mesmos dois autores sobre robôs e mão de obra. Daron Acemoglu é economista e professor do MIT, enquanto Pascual Restrepo é professor assistente de economia na Boston University. 

Em seus trabalhos anteriores, Acemoglu e Restrepo já quantificaram a extinção de vagas de trabalho nos EUA causada por robôs e identificaram que o final da década de 1980 foi quando a automação passou a substituir mais empregos do que estava criando.

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