A aplicação da robótica em tarefas diárias tem ganhado cada vez mais relevância, principalmente após a pandemia de Covid-19, em que a redução do contato físico entre as pessoas tornou-se prioridade.
Em Barcelona, por exemplo, a Polytechnical University of Catalonia (UPC) começou a testar o seu Autonomous Delivery Device (ADD), um dispositivo robótico desenvolvido para fazer entregas de até 100 quilogramas em um raio de 80 quilômetros, ou cerca de cinco horas de trajeto.
Para que o robô circule pela cidade enquanto realiza as entregas, ele foi equipado com sensores LIDAR e um sistema de comunicação para mantê-lo em contato com o destinatário que irá receber a carga transportada.
Isso significa que, caso o ADD seja utilizado para uma entrega de pizza, o dispositivo é capaz de enviar uma notificação confirmando o pedido e um código para que o cliente acompanhe a localização do veículo autônomo.
Desafios do mundo real
Até o momento, os testes realizados com o ADD foram bem-sucedidos. O robô foi capaz de se deslocar entre dois pontos, navegando por calçadas de até 20 centímetros de altura e recalculando sua rota para evitar obstáculos e potenciais ameaças.
Apesar do resultado otimista, os testes ainda não refletem as condições do mundo real. Conforme apontado pelos próprios pesquisadores envolvidos no projeto de robótica, todos os parâmetros do teste foram controlados. Além disso, a experiência ocorreu no campus da universidade e envolveu um trajeto de apenas 50 metros.
No caso do mundo real, as cidades apresentam condições muito mais complexas e imprevisíveis. Em determinadas regiões, as calçadas podem estar lotadas de pedestres e ainda ocupadas por bicicletas e patinetes em movimento.
Outro ponto a ser considerado são as condições climáticas. Segundo os cientistas, os sensores do ADD ainda não conseguem lidar com a chuva, e o desempenho é ainda pior quando está nevando.
Cidades adaptadas
Apesar dos muitos obstáculos a serem superados, os pesquisadores afirmam estar otimistas em relação ao ADD. Algumas das vantagens do robô autônomo é o fato de ele ser totalmente elétrico e programado para ser utilizado à noite, quando as ruas estão mais vazias e calmas, o que significa que a poluição sonora e o trânsito de pessoas e veículos são reduzidos.
Os testes realizados com o sistema de alteração de rota do ADD também foram promissores. Isso representa um fator importante, uma vez que pode resultar em menos chances de atrasos ou perdas de entregas importantes.
Por outro lado, entregas realizadas no período noturno implicam outros tipos de desafios, como vandalismos e roubos. Porém, os pesquisadores afirmam que essas preocupações ainda não são uma prioridade nesta fase do projeto.
Por enquanto, o foco é conseguir uma certificação para que o robô possa coexistir e interagir com outros veículos. A boa notícia é que o projeto conta com a parceria da Dirección General de Tráfico (DGT), responsável pelo código de trânsito da Espanha.
O ADD não é o único projeto de robótica dedicado a entregas na Espanha. Em Madrid, a empresa de mobilidade autônoma Goggo Network também está realizando testes com um robô capaz de realizar entregas de última hora.
Fundada em 2018, a companhia já desenvolveu dois veículos de entrega autônomos, o Goggo Cart e o Goggo Bot. Assim como o ADD, ambos já foram testados com sucesso, mas, antes que eles possam iniciar seu trabalho oficialmente, as cidades precisam ser adaptadas e estabelecer regras para que os robôs compartilhem o espaço urbano com pedestres e outros veículos.