A adoção do home office e modelos de trabalho híbrido durante a pandemia do novo coronavírus deve impactar as cidades brasileiras com mudanças estruturais.

Especialistas apontam que grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, devem sofrer transformações quanto à infraestrutura, mobilidade e aos sistemas de saneamento e energia elétrica – este último tido como principal ponto de preocupação por conta da alta no consumo concentrado, agravado ainda pela crise hídrica e pela alta da inflação.

“A concentração do consumo elétrico vem do aumento nos gastos individuais dos trabalhadores em suas residências e os problemas resultantes são significativos diante da infraestrutura que o país tem”, explica Luciano Machado, engenheiro civil e sócio da MMF Projetos.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), em maio de 2020, o setor residencial já apresentava um aumento de 6,5% frente ao mesmo período de 2019.

Para Bruno Sindona, CEO da Sindona Incorporadora, num período de inflação elevada, as altas tarifas residenciais crescem muito com os gastos de luz:

“As casas não são eficientes, não usufruem dos melhores materiais e dos meios de construção mais modernos e, por isso, consomem muita energia elétrica e geram grande desperdício de água”, explica ele, acrescentando que trabalhar de casa é vantagem para quem tem melhores condições:

“O trabalho híbrido funciona muito bem para quem tem um bom nível de empregabilidade, de renda e de moradia”.

Segundo Gustavo Favaron, manager partner do GRI Club, maior empresa de network imobiliário do mundo, o conceito de smart cities, ligado à adoção de novas tecnologias para a gestão do consumo de água e energia, ganhou terreno por conta do home office, principalmente pela necessidade crescente de se evitar desperdícios.

“Até mesmo espaços corporativos precisarão incentivar a criatividade, construção de cultura, visão de empresa e de futuro, tudo dentro da necessidade de se desenvolverem cidades inteligentes por todas as partes”, defende o empresário.

Henrique Costa, CEO da Accell Solutions, empresa líder na distribuição de medidores de água, energia e gás na América Latina concorda:

“Existem projetos de monitoramento remoto que permitem a verificação do consumo de casas e apartamentos e notificam o morador em caso de vazamentos ou problemas na distribuição desses recursos e, esse tipo de medida, caso fosse difundida, poderia trazer bons resultados na economia tanto dos recursos hídricos como energéticos”, afirma.

Infraestrutura das cidades deverá sofrer mudanças

Sala ampla com cadeiras e plantas

O trabalho híbrido levou as pessoas a adquirirem consciência maior sobre qualidade de vida e gestão de recursos naturais. Para Antonio Trentini, diretor de novos negócios da Culligan Latam, o que antes era um debate pequeno na sociedade agora ganhou reverberação.  

“É necessário que essa mentalidade seja levada para dentro de casa. As pessoas precisam de fato evitar horas a fio no banho, não utilizar esguichos para limpar a calçada, economizar energia e buscar soluções seguras para a água, principalmente no preparo de alimentos e na hidratação em si”, diz.

À medida que as empresas vão adotando o trabalho híbrido, os pontos comerciais e residenciais das cidades vão precisar se adaptar por conta da mudança de demanda nos dias úteis. 

Segundo Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, sempre que uma nova região se desenvolve, a infraestrutura urbana pode ter que passar por mudanças, seja de energia elétrica, saneamento ou mobilidade.

Os empreendimentos comerciais também terão grande papel na gestão inteligente de cidade, com adaptação a novos padrões para que os funcionários se sintam motivados a ir aos escritórios.

“Para que se tenha uma ideia, apenas em 2021, São Paulo saltou de 5% para 10% em lançamentos imobiliários com ênfase em experiência de usuário”, explica Fábio.

“Haverá uma mudança nos projetos arquitetônicos dos empreendimentos comerciais, com a ênfase se voltando para design de interiores, tudo para que se gere maior agrado, interação e experiência”, conclui.

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