Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, utilizou inteligência artificial para analisar centenas de milhares de e-mails trocados entre médicos e pacientes.
O que os pesquisadores descobriram foi que a maioria dos profissionais de saúde utilizam uma linguagem excessivamente complexa, dificultando a compreensão por parte dos pacientes. Além desse resultado, o estudo ainda traz algumas recomendações de como essas barreiras de comunicação podem ser superadas.
Especialistas que atuam na área de literacia em saúde, assim como as próprias organizações de saúde, já sinalizaram a importância de os médicos utilizarem uma linguagem simples para evitar confundir seus pacientes.
No entanto, o que a nova pesquisa revelou é que isso não ocorre na prática. Segundo o estudo publicado na Science Advances, apenas 40% dos pacientes com baixo nível de literacia em saúde são atendidos por médicos que utilizam uma linguagem simples com eles.
A pesquisa analisou especificamente a comunicação eletrônica, visto que ela tem ganhado cada vez mais importância como ferramenta de apoio à telemedicina, principalmente após a pandemia de Covid-19.
Algoritmos e machine learning
De acordo com os dados analisados pela inteligência artificial, os profissionais de saúde que apresentaram o melhor desempenho no questionário sobre a compreensão dos pacientes foram aqueles que costumavam adaptar suas mensagens eletrônicas ao nível de literacia de quem estava sendo atendido.
Os autores do estudo afirmam que a comunicação entre médicos e pacientes depende de uma combinação de atitudes e competências. Assim, eles utilizaram algoritmos e machine learning para medir a complexidade linguística das mensagens enviadas pelos médicos e a literacia em saúde dos pacientes.
No total, foram analisadas mais de 250 mil mensagens trocadas entre pessoas com diabetes e seus médicos através do portal de e-mail da organização Kaiser Pemanente.
O primeiro passo foi utilizar os algoritmos para avaliar se os pacientes estavam sendo tratados por profissionais que utilizavam uma linguagem adequada a eles.
Em seguida, a equipe de pesquisadores analisou os padrões gerais dos médicos, com o objetivo de verificar se eles tinham a tendência de adaptar a sua comunicação de acordo com os diferentes níveis de literacia em saúde apresentados pelos pacientes.
De acordo com os autores do estudo, a inteligência artificial permitiu identificar dezenas de aspectos linguísticos por trás dos sentidos literais das palavras ao examinar como elas estavam organizadas, suas características psicológicas e linguísticas, as classes gramaticais, a frequência com que eram utilizadas e o caráter emocional.
Ruídos na comunicação
A avaliação feita pelos pacientes sobre o quanto eles compreendiam as explicações fornecidas por seus médicos refletiram, no geral, a forma como eles se sentiam em relação à comunicação escrita e verbal desses profissionais de saúde.
Os pesquisadores pontuam que durante uma consulta presencial, os médicos ainda podem utilizar alguns recursos visuais ou feedbacks verbais dos pacientes para verificar se eles realmente compreenderam a mensagem transmitida.
No caso da comunicação por e-mail, no entanto, há menos chances de os médicos garantirem que a informação escrita está clara o suficiente para o nível de literacia em saúde de quem for recebê-la.
Portanto, a principal conclusão do estudo é que os pacientes se beneficiam mais quando os médicos adaptam as mensagens de acordo com a complexidade da linguagem utilizada pelo próprio indivíduo que está sendo atendido.