A Meta está mais uma vez sendo acusada de permitir a disseminação de discurso de ódio no Facebook relacionado a massacres étnicos, desta vez envolvendo os conflitos na Etiópia. 

Em 2017, a empresa, que ainda utilizava o nome da rede social, já havia sido responsabilizada por contribuir com o genocídio dos rohingyas, uma minoria étnica mulçumana, em Mianmar. 

No último fim de semana, o Bureau of Investigative Journalism (TBIJ) e o Observer descobriram que o Facebook continua a permitir que seus usuários publiquem conteúdos que incitam a violência por meio de discurso de ódio e desinformação.

As análises ainda mostram que a rede social está ciente de que isso contribui diretamente para alimentar as tensões existentes, o que indica uma falta de ação e indiferença por parte da empresa. 

As investigações identificaram famílias que acusam posts do Facebook de estarem ligados a mortes de algum parente. Também foram realizadas entrevistas com diversos verificadores de fatos, organizações da sociedade civil e ativistas de direitos humanos na Etiópia.

No geral, todos afirmam que a rede social não oferece o suporte necessário, ignorando pedidos de ajuda e não demonstrando interesse em realizar as reuniões solicitadas por algumas dessas entidades. 

Campanhas de ódio online

A negligência por parte do Facebook tem contribuído para alimentar os conflitos envolvendo milhares de mortes e que já deixou milhões de desabrigados desde que as disputas entre as forças do governo e grupos armados da oposição na região de Tigray iniciaram em novembro de 2020. 

Logo do aplicativo facebook em um aparelho de celular.
O Bureau of Investigative Journalism (TBIJ) e o Observer descobriram que o Facebook continua a permitir que seus usuários publiquem conteúdos que incitam a violência por meio de discurso de ódio e desinformação.

Um dos casos analisados pelo TBIJ e pelo Observer foi o de Gebremichael Teweldmedhin, um joalheiro de Tigray que foi raptado e supostamente morto há três meses. De acordo com um de seus familiares, as campanhas de ódio online, principalmente no Facebook, exerceram um papel crucial em seu assassinato e de várias outras vítimas. 

Segundo ele, muitas dessas publicações incluem nomes de indivíduos e até mesmo fotos, criando uma atmosfera marcada por ataques, deslocamentos forçados e mortes. A família de Teweldmedhin ainda cita um usuário do Facebook em particular: Solomon Bogale.

Com mais de 86 mil seguidores, Bogale é um ativista online que publica fotos de si próprio segurando um rifle e frases de apoio ao Fano, um grupo de vigilantes nacionalistas. Algumas semanas anteriores à morte de Teweldmedhin, Bogale havia convidado as pessoas a “limpar” o território de Amhara, eliminando a etnia Tigray.

Negligência e falta de apoio

As investigações do TBJI e do Observer ainda mostram que o Facebook já está ciente dos problemas há um tempo. Em janeiro de 2019, um relatório interno da empresa havia classificado a situação da Etiópia como “severa”. Já em dezembro de 2020, a classificação subiu para “terrível”, que é o maior nível de alerta da Meta. 

Ainda assim, a empresa continua a ignorar os pedidos de apoio por parte de verificadores de fatos baseados na Etiópia. Algumas organizações da sociedade civil também afirmam que não conseguiram se reunir com a Meta há 18 meses. 

Atualmente, a companhia conta com um programa de verificação de fatos terceirizado. No entanto, ainda não foi firmada nenhuma parceria com qualquer organização baseada na Etiópia com o intuito de combater a desinformação associada aos conflitos no país. 

A Meta, por sua vez, afirma que está monitorando as atividades em suas plataformas, a fim de identificar problemas à medida que eles surgem e remover conteúdos que violam as regras da empresa. A companhia ainda diz que trabalha com 80 verificadores de fatos em mais de 60 idiomas para revisar as publicações no Facebook.

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