No último domingo (3), Frances Haugen, uma ex-funcionária do Facebook, revelou em uma entrevista ao programa 60 Minutes que o Facebook utiliza algoritmos que promovem discurso de ódio, violência e desinformação com o objetivo de lucrar.
Haugen foi responsável pelos documentos vazados ao The Wall Street Journal que ganharam ampla repercussão ao mostrar que o Facebook estava ciente dos efeitos danosos de sua plataforma e que optou por ignorar o problema.
A delatora trabalhava como gerente de produtos no Facebook e era parte do grupo de Integridade Cívica. No entanto, quando o grupo foi extinto este ano, Haugen decidiu deixar a empresa, afirmando que não acreditava que a companhia estava disposta a investir nos meios necessários para tornar a plataforma segura.
Segundo declaração de Haugen ao 60 Minutes, o Facebook está “pagando seus lucros com a nossa segurança”. Ela ainda afirma que apesar de já ter trabalhado em diversas companhias, como Google e Pinterest, o problema é muito maior na empresa de Zuckerberg.
Algoritmos priorizam engajamento
A raiz do problema está nos algoritmos introduzidos pela plataforma em 2018, de acordo com Haugen. Eles são responsáveis por determinar os conteúdos exibidos nos feeds de cada usuário e têm como objetivo gerar engajamento.
O Facebook descobriu que a melhor forma de engajamento são aqueles que instigam o medo e ódio nos usuários. Afinal, “é mais fácil inspirar as pessoas a sentirem raiva do que outras emoções”, segundo Haugen.
Na época, o discurso adotado pela empresa foi que a introdução do algoritmo tinha como objetivo promover o bem-estar das pessoas. No entanto, eles resultaram em um aumento descontrolado de desinformação e conteúdos violentos que prevalecem na plataforma atualmente.
Isso não se limita apenas à plataforma que leva o nome da empresa, no entanto. O Instagram, que também é propriedade do Facebook, ganhou os holofotes após o vazamento de pesquisas internas mostrando que a companhia sabia que a rede social era prejudicial a adolescentes.
A resposta do Facebook às acusações
O Facebook recebe denúncias constantes sobre os tipos de conteúdos que são promovidos na rede social e como eles impactam a sociedade. A resposta padrão da empresa é que ela já adota práticas que visam combater o discurso de ódio.
O que os documentos vazados por Haugen revelam, no entanto, é que as ações da companhia afetam apenas 3% a 5% do discurso de ódio e cerca de 0,6% dos conteúdos de violência e incitação.
A resposta do Facebook aos vazamentos recentes têm seguido a mesma linha defensiva que a empresa costuma adotar. Em relação às pesquisas internas sobre o impacto do Instagram em adolescentes, a companhia negou as acusações e tentou mudar o discurso afirmando que a rede social, na verdade, ajuda os jovens a lidar com problemas.
Ainda no domingo, horas antes da entrevista de Haugen ao 60 Minutes, Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais do Facebook, declarou à CNN que é um absurdo culpar a rede social pela polarização política nos Estados Unidos.