Embora tenha sido implementado em larga escala durante a pandemia do novo coronavírus, o modelo de trabalho home office não é acessível para a grande maioria dos brasileiros. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre) apontou que menos de um em cada cinco trabalhadores do país tem condições para trabalhar de casa.
O potencial do trabalho remoto no Brasil, segundo o estudo, é de 17,8%. Menos da metade dos 37% estimados nos Estados Unidos, por exemplo. De acordo com os economistas da FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho, Fernando Veloso e Paulo Peruchetti, o percentual de trabalho no Brasil poderia chegar a 25,5%, caso todos os profissionais tivessem infraestrutura, com computador, internet e energia elétrica.
Segundo os especialistas, ainda assim, o potencial dos brasileiros para o teletrabalho ficaria abaixo do de outros países. Na Alemanha, esse potencial chegaria a 29% da mão de obra, enquanto na França corresponderia a 28%. Na Espanha, o índice seria de 25%, enquanto na Suécia e no Reino Unido, de 31%.
Os pesquisadores da FGV alertam que o cenário brasileiro pode ser ainda mais limitado.
“O trabalho remoto efetivamente adotado atingiu um pico de 10,4% do emprego durante a pandemia, número relativamente baixo e que pode indicar que nosso potencial seja ainda mais baixo”, afirmam no estudo.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas ocupadas somou 89 milhões no trimestre encerrado em julho. Isso significa que o potencial de trabalhadores em condições de trabalhar em home office seria de 15,8 milhões.
Estrutura doméstica pode variar
O estudo da FGV aponta ainda que o potencial de trabalhadores que podem trabalhar de casa varia de acordo com o grau de desenvolvimento da região do país. No Sudeste, esse potencial chega a 20.8%, enquanto no Sul, fica em 19,8%. Em regiões menos desenvolvidas, a situação é diferente. O índice chega a 10,3% no Norte e a 13%, no Nordeste.
Além disso, o potencial do alcance do home office é bem maior no setor público (40%) quando comparado com o setor privado (15%). O estudo mostra ainda que as unidades da federação com maior potencial são o Distrito Federal, com 29,2% de potencial e Rio de Janeiro e São Paulo, ambos com 22,6%.
Segundo os autores, trabalhadores com vínculo formal de emprego e com mais anos de estudo possuem maior possibilidade de trabalho de casa. O estudo constatou ainda que mulheres possuem maior possibilidade de trabalho remoto do que os homens.
Os pesquisadores alertam, porém, que um eventual avanço do trabalho remoto no Brasil virá acompanhado do risco de ampliação das desigualdades já existentes, uma vez que o teletrabalho é possível especialmente para trabalhadores de maior escolaridade e salários mais elevados.
“Isso reforça ainda mais a necessidade de capacitação da mão de obra para as mudanças no mercado de trabalho e a necessidade de uma melhoria na infraestrutura doméstica, principalmente nos estados mais pobres, permitindo assim uma maior incorporação de trabalhadores nesta nova modalidade de trabalho”, destacam.