O Departamento de Assuntos Internos da Austrália sinalizou a Meta, antigo Facebook, como sendo a plataforma de redes sociais que se mostra mais relutante em trabalhar com o governo para promover um ambiente digital seguro.
A declaração foi feita por representantes do departamento durante uma reunião do Select Committee on Social Media and Online Safety, que vem investigando algumas práticas de grandes empresas de tecnologia com o objetivo de combater comportamentos tóxicos online.
As investigações do comitê foram aprovadas pelo governo federal no final do ano passado, com o intuito de reforçar uma lei proposta com foco nas redes sociais para “desmascarar trolls”.
Na ocasião, o Departamento de Assuntos Internos alertou para a negligência em relação aos algoritmos de redes sociais e para o uso de criptografia como um potencial mecanismo para prevenir abusos na internet.
Criptografia como recurso de segurança
De acordo com o diretor de políticas digitais e de tecnologia do Departamento de Assuntos Internos, Brendan Dowling, há uma preocupação crescente em relação ao uso de criptografia em plataformas online.
Ele pontuou que o departamento não é contra a criptografia e reconhece os benefícios de cibersegurança e privacidade que a tecnologia oferece. O problema é que a implementação dessa técnica não tem sido feita com a intenção de priorizar a segurança dos usuários.
Segundo Dowling, as empresas têm se mostrado cada vez mais interessadas no conceito de “safety by design”, mas a realidade é que a segurança é oferecida como um recurso secundário e que é levado em consideração apenas após o design da plataforma.
Uma das principais preocupações do departamento é o fato de a criptografia ser implementada sem considerar algumas questões de segurança. Dowling cita como exemplo mecanismos que permitem identificar casos de abuso infantil em qualquer ambiente criptografado.
De acordo com o representante de Assuntos Internos, existem soluções técnicas para identificar esses incidentes, mas o que acontece é que as plataformas querem implementar a criptografia para lidar com questões de cibersegurança sem levar em consideração como elas vão priorizar a segurança pública e oferecer assistência às autoridades.
Dowling descreve o cenário como um exemplo claro de inovação sendo colocada à frente da segurança.
Discurso contraditório
Durante a reunião do comitê, o Departamento de Assuntos Internos mencionou especificamente a Meta como sendo “frequentemente a mais relutante em trabalhar com o governo” quando se trata de promover um ambiente online seguro, adotar uma abordagem de “safety by design” e tomar medidas adequadas e proativas para prevenir danos online.
Segundo os representantes do departamento, as plataformas digitais continuam a ser manipuladas por agentes mal-intencionados, e os indivíduos que buscam causar danos são capazes de explorar as tecnologias mais rápido que a capacidade da indústria de desenvolver novos recursos de segurança.
Os argumentos apresentados pelo Departamento de Assuntos Internos contradizem o discurso da Meta de que as alegações feitas por Frances Haugen, ex-funcionária que vazou documentos da empresa, sobre a companhia priorizar o lucro às custas da segurança são falsas.
Desde o escândalo iniciado no ano passado, a Meta vem reforçando a ideia de que a segurança está no “core business” da empresa.