Os seres humanos não são a única espécie a habitar o planeta Terra. Desde o princípio, houve uma profunda interação entre nós e as outras espécies que compartilham desse mesmo ambiente. Essa interação foi convertida em cultura popular, mitos e tradições que pouco a pouco foram se enraizando e sendo passadas de geração para geração por meio da narração e contação de histórias. Aos poucos, foram se formando arquétipos animais.
Essa relação tão primitiva e íntima que temos com as outras espécies pode ser compreendida e utilizada em diversos campos, seja na psicanálise, no storytelling e até mesmo no marketing. Não é à toa, por exemplo, que são utilizados animais para educar crianças em contos de fadas e fábulas.
Vamos conhecer um pouco mais sobre esse tema e entender qual a relação entre animais e arquétipos? Então, dê uma conferida no material que disponibilizamos a seguir:
- O que são arquétipos?
- Qual a relação entre arquétipos e a figura dos animais?
- O que são arquétipos animais?
- Qual é o arquétipo animal que melhor representa cada um dos 12 arquétipos do Storytelling?
- 3 exemplos de arquétipos animais no Marketing!
Boa leitura!
O que são arquétipos?
Um arquétipo pode ser definido de maneira bem superficial como um modelo ou imagem que é primitivo e arcaico, podendo servir de molde para a criação de outras imagens semelhantes. Na verdade, não é uma teoria nova, quando Platão, na filosofia da Grécia Antiga, já lançava os fundamentos para ela ao dizer que haviam “formas puras e verdadeiras” que já estavam presentes na alma antes do nascimento. No entanto, a teoria e reconhecimento dos arquétipos só foi possível a partir do trabalho do psicoterapeuta Carl Jung.
Jung trabalhou em conjunto com o famoso psiquiatra Sigmund Freud, que “descobriu” a existência do inconsciente, essa parte de nossa mente que funciona de maneira independente e que não temos acesso. Jung aprofundou-se, separando o inconsciente em duas partes. Uma é o inconsciente de Freud, particular, em que guardamos nossas experiências da vida. O outro é um inconsciente chamado “coletivo”, pois o compartilhamos com todos os seres da nossa espécie e que estão inseridos no mesmo contexto.
Esse “inconsciente coletivo” é lar de todas essas imagens primitivas que carregamos conosco e que usamos para construir sentido no mundo. Criamos nossas representações a partir delas. Um grande exemplo é que, quando nascemos, somos capazes de reconhecer instintivamente a figura da Mãe, mesmo não tendo estrutura para isso ainda. A mãe, portanto, é um arquétipo poderoso.
Em síntese, os arquétipos são essas imagens que já existem antes mesmo de nosso nascimento e que herdamos, se manifestando espontaneamente em diversas culturas e sociedades distintas de tempos em tempos. Temos então que essas imagens são universais.
Qual a relação entre arquétipos e a figura dos animais?
Falamos um pouco na seção anterior sobre como os arquétipos estão em um campo abstrato de percepção que vai além de nós mesmos, uma percepção arcaica passada de geração para geração. De maneira semelhante, os animais possuem os instintos, que funcionam assim como essa tendência a criar representações a partir de um tema que chamamos de arquétipos.
Ao compartilhar a existência e a vida com os animais, nós também compartilhamos desses “instintos” e criamos relações, associando nossa vivência e experiência com a dos animais. Aos poucos, eles aparecem entrelaçados em nossas histórias e culturas, mesclando-se com arquétipos e imortalizando-se.
Exemplos mais clássicos disso demonstram como nossos (não tão distantes) antepassados representavam animais nas paredes das cavernas, contando as primeiras histórias sobre embates, perseguições, caçadas e etc. Depois, com o desenvolvimento da linguagem e sua representação menos pictórica, diversas culturas começaram a se fundamentar em cima da relação entre humanos e animais pautada em narrativas e literatura.
Na mitologia egípcia, por exemplo, a representação dos deuses é feita a partir da mescla de seres humanos e animais. Abaixo, temos a figura de Anúbis, o deus responsável pela morte que é metade humano, metade chacal. Acredita-se que a imagem do chacal (uma espécie de cão selvagem) se mesclou à complexa e abstrata ideia da morte por conta de que esses animais frequentemente são vistos em cemitérios.
A mitologia hindu é outra que também associou os animais endêmicos (de sua região). Ganesha, por exemplo, é uma divindade que mescla características humanas com as de um elefante. A divindade representa a sabedoria, a inteligência e a abundância, traços associados também à figura do animal elefante.
Não somente em mitologias podemos encontrar essas relações, mas na literatura mais recente, associado a contos de fadas e fábulas. Geralmente, canídeos como Raposas e Lobos são associados a esperteza e voracidade, criaturas nas quais não se pode confiar. Cordeiros, ovelhas e outros animais da espécie são associados com figuras puras e inocentes, provavelmente potencializadas pela metáfora cristã entre Jesus Cristo e esses animais dispostas na bíblia. O Leão, por toda sua força e domínio, ganha comparação com a monarquia, tornando-se “rei” da selva.
De qualquer forma, é muito enraizada a relação entre seres humanos e animais, e isso se reproduz em nossas produções artísticas e culturais e podem ser encontradas a partir de diversas referências nos dias de hoje.
O que são arquétipos animais?
O termo “arquétipos animais” é um pouco equivocado do ponto de vista do que Jung propõe para a conceituação dos arquétipos. Na realidade, os “arquétipos animais” ou essa ideia de que animais representam características específicas e abstratas que ficam presas no imaginário social podem ser vistas melhor como representações de arquétipos mais abstratos.
Por exemplo, a morte é um arquétipo importante, assim como é o renascimento, presente em muitas de nossas literaturas. Anúbis é uma representação da morte que fazia sentido para o povo egípcio, que por sua vez vem da associação entre os canídeos e o cemitério. A Fênix, animal mitológico, é um ótimo exemplo da representação do arquétipo do renascimento, pois queima em chamas para nascer de novo.
Então, em resumo, os chamados “arquétipos animais” na realidade são representações e associações entre arquétipos e animais que se fixaram no imaginário social de um determinado povo, sendo transmitido de geração para geração por meio de histórias, narrativas, literaturas e outras tradições.
Qual é o arquétipo animal que melhor representa cada um dos 12 arquétipos do Storytelling?
Nos dias de hoje, após Jung, outras pessoas decorrentes dessa teoria reconheceram na literatura moderna a presença de 12 arquétipos principais que se fazem muito presentes e que fazem parte do imaginário da maioria das pessoas, fazendo com que elas consigam se associar, criando um vínculo com a personagem ou o que está sendo apresentado.
Por conta disso, a utilização desses arquétipos se tornou presente dentro do Storytelling, que é um conjunto de técnicas utilizadas para conseguir contar uma história de maneira eficaz, com intuito de convencer a audiência a realizar uma ação. O Storytelling é uma técnica bastante útil no marketing, na publicidade e em outras áreas afins.
Quais são os 12 arquétipos do Storytelling?
- Herói: amplamente representado na literatura, o herói é um arquétipo central que dá movimento para a trama. Normalmente, esse personagem sai em uma aventura em busca de um chamado, passa por uma provação e salva o dia. São quase perfeitos, tendo apenas um defeito maior que é o que faz com que haja uma tentação que normalmente precisam superar.
- Explorador: esse arquétipo vive para aventurar-se e quer viajar rumo ao desconhecido, ter todos os tipos de experiências e depois voltar para contar histórias. Seu maior medo é ficar preso em algum lugar por muito tempo.
- Cuidador: esse arquétipo vive para cuidar do herói ou do inocente. Sua maior característica é abdicar de sua vida em prol de outras pessoas.
- Amante: como seu nome diz, o amante é uma arquétipo cujo objetivo é amar alguma coisa. Pode ser um homem, uma mulher ou um casal, como Romeu e Julieta. A maior característica desse arquétipo é se entregar sem pensar duas vezes para o objeto de seu amor.
- Pessoa comum: a pessoa comum é um personagem que não tem nenhuma habilidade especial e vive sua vida normalmente. Está inserida em um contexto social próximo à realidade e seu maior desejo é estabilidade, conforto e justiça.
- Inocente: um arquétipo bastante relacionado à infância, o Inocente é um personagem bondoso e ingênuo que sempre enxerga o melhor das situações por não ter noção da maldade que o mundo pode ter. Está bastante ligado à sinceridade também.
- Rebelde: o rebelde é bastante semelhante ao herói, apesar de que suas motivações são distintas. Enquanto o herói está preso pela moral e pela lei, o rebelde atinge seus objetivos alheio a isso, não se importando com as consequências. Busca alcançar justiça por algo que lhe foi tirado e causou grande trauma, e quer fazer isso com as próprias mãos.
- Criador: Excêntrico e criativo, esse personagem deseja explorar os limites da existência, criando coisas novas.
- Soberano: personagem que está acima dos demais e tem certo poder. Seu maior medo é ser destronado. Pode ser um soberano bom e amado ou um soberano tirano e odiado por todos os outros personagens, podendo até mesmo se converter no vião da história.
- Sábio: personagens experientes que aparentam ter a resposta para tudo. Não estão disponíveis o tempo todo na jornada do herói pois sabem que se ajudarem muito, o personagem herói não conseguirá evoluir. São muitas vezes associados à previsão do futuro e ao místico.
- Mago: mescla de criador com sábio, esse arquétipo quer conhecimento e poder porém para usar em benefício próprio. O mago pode perder-se com o poder e ser corrompido por ele, ou ser benéfico e ajudar o herói — em troca de algo que necessita.
- Louco (trickster): Muitas vezes utilizado como escape cômico, esse bufão ou bobo da corte está sempre presente e ninguém tem realmente certeza da sua índole pois é altamente ambíguo. Em momentos necessários, são os personagens loucos que oferecem um lampejo de verdade em meio a piadas que o herói ou soberano provavelmente precisam.
12 exemplos de arquétipos animais associados ao Storytelling!
Agora que já conhecemos os arquétipos principais do Storytelling, podemos ver como suas representações animais funcionam nas narrativas. Abaixo, você encontrará um animal que é amplamente utilizado como representação para cada arquétipo explicitado acima. Confira:
1- Herói — Cavalo
Forte, veloz, potente… Não à toa associamos a força dos cavalos com a potência de motores de carros esportivos. O cavalo é normalmente visto como esse animal guerreiro, que aguenta um grande peso em suas costas sem reclamar. E obviamente, com bastante esforço vem a vitória. Todos esses atributos se encaixam também no arquétipo do Herói. Se você está buscando uma boa metáfora por meio de uma história com animais, o cavalo com certeza seria um excelente protagonista.
2- Explorador — Tartaruga Marinha
“Tu manda muito bem, esguicho!”
Impossível não lembrar da Tartaruga Verde Marinha de “Procurando Nemo”, o Crush. A tartaruga surfista é uma perfeita representação do porquê a tartaruga é vista como uma exploradora. Desde filhote já necessitando lutar pela sua vida para chegar até o mar, depois, explorando as correntes marítimas para onde a vida a levar. A tartaruga é uma representação ideal do arquétipo do explorador!
3 – Cuidador — Elefante
Você pode não saber, mas os elefantes são uma das espécies de animais mais empáticos do mundo. Além de serem inteligentíssimos, são também emocionalmente complexos. Até mesmo o luto é um sentimento reconhecido neles. Eles são capazes de perseguir e enfrentar predadores para proteger sua cria e a de outros de sua espécie. Ainda tem dúvidas de que esse animal é o melhor cuidador da natureza?
4 – Amante — Pavão
Assim como o arquétipo do amante, o pavão vive em função da beleza e exuberância. Sua característica primária são as belas penas que esse animal ostenta em prol do acasalamento. Logo, ele tem tudo a ver com paixão, romance e sedução!
5 – Pessoa Comum — Cachorro
Quando você pensa naquele animal que agrada a quase todo mundo, você provavelmente está pensando no cachorro! Pode ser um labrador, que é leal e companheiro, ou aquele vira-latas de cor caramelo que está presente em quase todos os lugares que você vai! A melhor representação para a honestidade e simplicidade da pessoa comum, sem dúvida nenhuma, é o cão!
6 – Inocente — Coala
A grande maioria dos ursos (enquanto filhotes) são boas representações do arquétipo do Inocente. No entanto, não existe competição quando o assunto é o Coala, esse animal que conquista o coração de muitos por ser tão dócil!
7 – Rebelde — Águia
A águia (mais especificamente a águia-careca) é sempre vista com esse olhar de liberdade e solidão, estando sempre no campo semântico de ambientes inóspitos e desérticos, próximo ao que conhecemos na cultura popular de filmes norte-americanos como velho-oeste. A águia é uma animal forte e implacável, que atua de acordo com suas próprias leis, assim como o arquétipo do Rebelde.
8 – Criador — Abelhas
Já parou para se perguntar como as abelhas conseguem tanto com apenas pólen? Elas constroem colméias, fazem mel, cera… É impressionante sua capacidade de criação e organização. Assim como o arquétipo do Criador, ela é inventiva e inovadora.
9 – Soberano — Leão
A visão do Leão como rei da selva é tão comum que pode até ter se tornado um clichê. Mas, ei, ainda funciona! O leão é associado à realeza da natureza devido a ser implacável e não temer nenhum outro animal. Logo, seu controle e dominância se associam diretamente com a realeza do arquétipo do Soberano.
10 – Sábio — Polvo
Você sabia que o polvo tem nove cérebros, um central e os outros distribuídos em cada tentáculo? Como não ser visto como o mais sábio dessa forma? O polvo, assim como o sábio, é sinônimo de inteligência. Isso é tão real em nosso imaginário popular que um polvo viralizou durante a copa do mundo de 2010 por “prever” corretamente o resultado das partidas.
11 – Mago — Borboleta
Aposto que você já entendeu a referência, certo? Uma lagarta nada especial que “magicamente” se torna uma bela e colorida criatura. É por esse motivo que as borboletas são frequentemente utilizadas como representação para o arquétipo do Mago.
12 – Louco — Macaco
Não é à toa que há um personagem muito famoso no mundo dos desenhos chamado “Macaco louco”. Sempre, em filmes e outras obras, o macaco é sempre o personagem mais esperto e engraçado, que está disposto a fazer algo completamente imprevisível. Porém, o macaco também é muito sábio e frequentemente é colocado nesse papel, como Rafiki, por exemplo.
3 exemplos de arquétipos animais no Marketing!
Coca-Cola
Pode-se dizer que os adoráveis ursos dos comerciais da Coca-cola que vinham no período do Natal ajudaram a consolidar a marca como familiar e até mesmo infantil, trazendo essa visão do arquétipo do Inocente que muitas vezes a representação do urso pode trazer.
Os ursos, atrapalhados e ingênuos, ajudam a criar uma narrativa simples e muda que cativa pessoas de todas as idades. Isso ajuda a trazer para a marca uma sensação de segurança e conforto, assim como uma família.
Cheetos
Com certeza o descolado Chester Cheetah ajudou — e muito — o Cheetos a se consolidar como uma das maiores marcas de salgadinhos existentes. Bastante focado em um público adolescente, a marca torna Chester um pouco mais laranja que o habitual para mesclar com o preto para ajudar na identificação do arquétipo do Rebelde. O mesmo padrão de cores é visto, por exemplo, na logo da Harley Davidson.
Sucrilhos
Se o Chester Cheetah é um arquétipo do Rebelde, aqui temos também um felino, porém pautado no arquétipo do Herói. Apesar de incorporar o mesmo padrão de cores do felino da Cheetos, repare como o azul e o vermelho entram para suavizar (por acaso também são as mesmas cores do Super Homem, uma representação bem enraizada do arquétipo do herói). Como tigre ele está ligado à velocidade e agilidade, pautados na energia que o produto fornece ao consumí-lo. No entanto, suas expressões foram suavizadas para que a voracidade do animal não se tornasse perceptível, dando o ar confiável que todo herói precisa.
Como vimos, os arquétipos animais, — ou representações animais arquetípicas, como preferimos chamar — são formas bem inteligentes de se contar uma história. Associar um animal a um personagem arquetípico ajuda a história a se tornar mais ilustrativa e fácil de ser compreendida. Além disso, é uma boa tática para que haja identificação.
Logo, você pode começar a observar como as marcas e os filmes contam histórias a partir das noções prévias que temos sobre cada animal. Isso ajudará você a ter ideias e colocar em prática, quando necessário. Se você trabalha com marketing ou está construindo sua própria marca pessoal, por que não associá-la à figura de um animal? Isso pode fazer com que as pessoas entendam quem você é logo de cara.
Agora que você já conheceu os arquétipos animais, que tal conhecer alguns arquétipos femininos?