Um grupo de Membros do Parlamento (MPs) do Reino Unido publicou um relatório indicando que utilizar algoritmos para monitorar trabalhadores e estabelecer metas de desempenho prejudica a saúde mental dos profissionais e, portanto, a tecnologia deve ser regulamentada por uma nova lei. 

A proposta foi feita por um grupo parlamentar de todos os partidos (ou APPG, na sigla em inglês), que defende que uma “lei de responsabilidade para algoritmos” garantiria que as empresas considerassem os efeitos de adotar estratégias baseadas em performance.

Alguns exemplos desse tipo de avaliação de desempenho incluem o monitoramento de filas em caixas de supermercados e o número de entregas por hora feitas por trabalhadores de serviços de delivery.   

De acordo com o relatório, intitulado “New Frontier: Artificial Intelligence at Work”, tecnologias de monitoramento e de definição de metas estão associadas a impactos negativos no bem-estar físico e mental dos trabalhadores.

Isso se deve ao fato de que esses profissionais são submetidos à pressão extrema de um micro-gerenciamento e avaliações automatizadas constantes e em tempo real.

Pessoa com telas atrás de sua cabeça
Um relatório indicando que utilizar algoritmos para monitorar trabalhadores e estabelecer metas de desempenho prejudica a saúde mental dos profissionais

Regulamentar algoritmos de vigilância

Além de pontuar os riscos associados ao uso de algoritmos para avaliar o desempenho no ambiente de trabalho, o relatório apresentado pelo APPG também traz recomendações de como solucionar o problema. 

Uma das principais sugestões é a criação de uma nova lei para estabelecer uma “direção clara e garantir que a inteligência artificial coloque as pessoas em primeiro lugar”. 

A legislação proposta também daria aos trabalhadores o direito de participarem do design e da implementação de sistemas baseados em algoritmos. Esses sistemas são responsáveis por tomar decisões cruciais, como a distribuição dos turnos de trabalho, o pagamento dos funcionários e até mesmo quem será contratado ou não. 

Outra recomendação apresentada pelo relatório é que os empregadores do setor público e privado realizem avaliações de impacto dos algoritmos, a fim de eliminar quaisquer problemas causados pelos sistemas utilizados.

Esses formulários de avaliação também ajudariam a expandir o novo órgão de regulamentação digital, Digital Regulation Cooperation Forum, que pretende introduzir certificados e diretrizes para o uso de algoritmos e inteligência artificial no ambiente de trabalho. 

Riscos à saúde física e mental

Segundo o relatório, o uso de algoritmos de vigilância e tecnologias de gerenciamento e monitoramento que auxiliam na tomada de decisões aumentou de forma significativa durante a pandemia de Covid-19, à medida que muitas empresas adotaram o regime de trabalho remoto.

A proposta do APPG surgiu após a publicação de um outro relatório, divulgado em maio deste ano pelo Institute for Future of Work, sobre o papel da inteligência artificial e dos algoritmos no mundo moderno.

Intitulado “The Amazonian Era”, o relatório foca em trabalhadores do setor varejista, reunindo depoimentos de motoristas de serviços de entrega e operadores de caixa . No documento, os profissionais contam como os sistemas de monitoramento e de definição de metas produziram altos níveis de ansiedade. 

Além dos riscos à saúde mental, a pressão imposta por esses sistemas também colocam em risco a saúde física dos trabalhadores. De acordo com os depoimentos, muitos motoristas ultrapassam o sinal vermelho em semáforos devido ao limite de tempo das entregas e precisam utilizar frequentemente o celular enquanto dirigem. 

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