O hacker que espalhava na internet fake news, teorias da conspiração e propaganda e pró-Donald Trump entre os anos de 2015 e 2017 resolveu dar as caras.

Conhecido como Hacker X, Robert Willis nasceu em Stamford, Connecticut, no nordeste dos Estados Unidos. Segundo ele, a decisão de revelar sua identidade veio depois que observou as consequências das correntes de informações falsas durante a pandemia do novo coronavírus.

“A Covid-19 me mostrou o lado mortal das fake news e das pessoas antivacinação”, disse o hacker, que hoje coordena o grupo de hacking ético Sakura Samurai.

 “Depois de várias conversas com meu pai, que se recusa a usar máscara ou ser vacinado, fiquei muito preocupado. Perguntei a ele em quais sites ele lia essas teorias conspiratórias e ele mencionou o site que administrava a rede em que construí a máquina [de desinformação]”, acrescentou.

Willis não revelou o nome da empresa para qual trabalhou durante as eleições que elegeram Trump presidente dos EUA, mas a deu o codinome de “Koala Media”.

Ele explica que, quando conseguiu o emprego, não sabia que a empresa tinha pretensões extremistas. Sua função no trabalho era expandir rapidamente um site popular sobre suplementos e tratamentos alternativos.

De início, Willis acreditava que a Koala fazia um trabalho de jornalismo investigativo. No entanto, assim que Trump começou a subir nas pesquisas de intenção de voto, o comportamento editorial da empresa mudou.

“O conteúdo passou a ser voltado para coisas bobas, como ‘limão cura câncer. E, eventualmente, para coisas bastante imprecisas”, lembra ele.

Além disso, as notícias começaram a se tornar cada vez mais opinativas e sem sentido. Frequentemente, citações eram colocadas de forma enganosa, interpretando fatos noticiosos da semana por uma visão distorcida ou apontando para artigos na rede de sites da Koala para dificultar a navegação do leitor.

O site também propagava notícias contra Hillary Clinton, rival de Trump nas eleições de 2016. Os textos apontam que a candidata tinha planos para criminalizar proprietários de armas, destruir a imprensa libre, sacrificar adultos e banir a bandeira do país.

Como funcionava a disseminação das notícias

As reportagens, ele explica, eram distribuídas por meio de uma rede massiva, em que os artigos do site principal da empresa eram linkados.

Menino segura caneca enquanto olha para o computador

“Era um web ring em que os sites não pareciam ter qualquer associação real entre si do ponto de vista técnico e não podiam ser rastreados”, conta.

Cada site estava em um servidor separado e tinha um endereço IP exclusivo. As notícias eram distribuídas, segundo Willis, por meio de uma operação de sincronização que envolvia diversos VPNs com “várias camadas de segurança”.

“Supervisionei tudo e tinha pilhas de cartões SIM comprados em dinheiro para ativar diferentes sites no Facebook, uma vez que era necessário naquele momento”, explica. “Cada site tinha uma identidade falsa que inventei. Tinha uma folha onde guardava nome, endereço e número de telefone do cartão SIM”, acrescenta.

De acordo com Willis, os artigos da Koala alcançavam mais de 30 milhões de pessoas por semana. Ele deixou o trabalho em 2017 e, atualmente, trabalha para solucionar vulnerabilidades nos sistemas de entidades públicas e privadas.

 “Tive um momento de reflexão e dinheiro no banco e decidi que o que mais gostava de fazer era hackear, então queria voltar para isso. Decidi buscar um emprego na indústria de segurança”, afirma.

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