A Coreia do Sul anunciou que vai testar um projeto piloto que utiliza inteligência artificial, reconhecimento facial e câmeras de segurança para monitorar casos confirmados de Covid-19. O projeto será implementado em Bucheon, uma das cidades mais densamente povoadas do país e que fica próxima à Seul, a partir de janeiro.
O plano foi detalhado em um documento de 110 páginas enviado ao Ministério da Ciência e TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). Os sistemas de inteligência artificial e reconhecimento facial serão utilizados para analisar as gravações feitas por mais de 10 mil câmeras de segurança.
O objetivo é monitorar não apenas os indivíduos que foram infectados pelo coronavírus, mas qualquer pessoa que tenha tido um contato próximo com eles e se estavam utilizando máscara ou não.
A adoção dos sistemas ajudaria a reduzir o trabalho das equipes de monitoramento que atuam na cidade de mais de 800 mil habitantes, permitindo que suas habilidades sejam aproveitadas de forma mais eficiente e adequada.
Por outro lado, o projeto levanta preocupações sobre privacidade, assim como ocorreu com qualquer sistema de vigilância que outros países tentaram implementar. China, Rússia, Índia, Polônia, Japão e Estados Unidos são alguns dos exemplos de governos que já realizaram experimentos com reconhecimento facial para monitorar pacientes com Covid.
Automatização do rastreamento de casos
A Coreia do Sul já conta com uma estratégia que investiga históricos de cartões de crédito, dados de localização de celulares, gravações de câmeras de segurança e outras informações pessoais para monitorar a população durante a pandemia.
No entanto, apesar de adotar tecnologias de ponta para automatizar parte do trabalho, o país ainda depende de investigadores epidemiológicos que muitas vezes trabalham em turnos de 24 horas para rastrear e contactar possíveis casos de Covid-19.
Um dos argumentos utilizados para solicitar investimentos do governo no projeto foi que os sistemas de inteligência artificial e reconhecimento facial acelerariam o processo de rastreamento de infecções.
Outra vantagem mencionada no documento é o fato de que seria possível obter avaliações mais precisas. Atualmente, as equipes de monitoramento baseiam-se em depoimentos dos próprios pacientes, que muitas vezes não são totalmente sinceros em relação às suas atividades ou locais que frequentaram.
Privacidade e vigilância
Os sistemas que a cidade de Bucheon pretende implementar são capazes de monitorar até dez pessoas em cinco a dez minutos. Isso representa uma redução de tempo significativa quando comparado aos 30 a 60 minutos necessários para rastrear uma única pessoa de forma manual.
Por enquanto, não há planos para expandir o programa a nível nacional, visto que o objetivo é apenas reduzir parte do trabalho manual realizado atualmente.
O Ministério da Ciência e TIC disponibilizou cerca de US$ 1,36 milhões para o projeto e injetou mais de US$ 400 mil do orçamento da cidade para a construção do sistema.
Autoridades de Bucheon ainda defendem que não há invasão de privacidade uma vez que os sistemas rastreiam apenas os casos confirmados de Covid-19 e omite os rostos de outras pessoas que aparecem nas gravações.
Os pacientes devem fornecer seu consentimento para que o reconhecimento facial seja utilizado. O problema é que a tecnologia ainda pode monitorar esses indivíduos por meio da silhueta ou roupas mesmo que eles se recusem a autorizar o uso do sistema.
Outra preocupação é que não há garantias de que o sistema será utilizado exclusivamente para monitorar os casos de Covid-19 durante a pandemia, podendo tornar-se uma ferramenta de vigilância estatal no futuro.