O trabalho home office tornou-se uma modalidade amplamente adotada pelas empresas após a pandemia de Covid-19. Mesmo com a possibilidade de retornar aos escritórios, algumas companhias optaram por manter o trabalho remoto ou implementar um modelo híbrido.

Apesar de oferecer algumas vantagens para empresas e funcionários, o home office também trouxe alguns desafios preocupantes, como o monitoramento remoto e ferramentas de vigilância para garantir a produtividade dos trabalhadores. 

De acordo com o relatório “Electronic Monitoring and Surveillance in the Workplace”, do Joint Research Council (JRC) da Comissão Europeia, a vigilância no trabalho pode ameaçar a confiança e o comprometimento dos funcionários em relação à empresa, visto que eles não têm conhecimento sobre como e por que seus dados são coletados.

Essas ferramentas de monitoramento, principalmente aquelas que utilizam técnicas mais invasivas, podem prejudicar a saúde mental dos trabalhadores, sendo que a pandemia em si já provocou uma série de efeitos psicológicos negativos.  

O relatório do JRC analisou mais de 400 artigos e a conclusão foi que a vigilância no trabalho passou a ser amplamente adotada por meio da transformação do trabalho em dados, principalmente com a expansão de plataformas algorítmicas utilizadas por empresas como Uber e Amazon.  

Pessoa sentada em uma mesa com um computador e duas telas.
A vigilância no trabalho pode ameaçar a confiança e o comprometimento dos funcionários em relação à empresa.

Essas empresas avaliam o desempenho de seus funcionários com base em algoritmos e oferecem recompensas de acordo com os resultados. Segundo a pesquisa, essa dependência da tecnologia, além da falta de autonomia e de apoio gerencial representam riscos psicológicos significativos aos trabalhadores.

Falta de transparência

Com a adoção do home office em larga escala, tecnologias mais invasivas também começaram a ser implementadas, como o monitoramento de e-mails, biometria, dispositivos wearable, e gravação de tela e câmera.

Isso tudo foi uma resposta das empresas para tentar controlar seus funcionários, como uma forma de garantir uma alta taxa de produtividade. O erro, no entanto, foi acreditar que a tecnologia poderia substituir técnicas de gerenciamento adequadas.

Um dos principais receios por parte dos trabalhadores é o fato de eles não saberem as reais intenções dos dados que estão sendo coletados. Isso faz com que eles percam a confiança na empresa e criem uma certa resistência, que, consequentemente, pode resultar em maiores taxas de rotatividade. 

Ou seja, utilizar tecnologias de monitoramento para manter a produtividade durante o trabalho remoto pode acabar tendo o efeito contrário, conforme aponta o relatório. Afinal, a vigilância pode fazer com que as pessoas sintam que as condições de trabalho não são justas, o que diminui a sua satisfação e comprometimento com a empresa.

Adaptar técnicas de monitoramento

Apesar das ferramentas de monitoramento representarem uma ameaça à saúde mental dos trabalhadores atualmente e prejudicarem a relação entre funcionários e empresas, é pouco provável que elas deixem de existir e de serem adotadas. A melhor solução por enquanto é encontrar formas de torná-las menos nocivas. 

A vigilância costuma ser associada ao autoritarismo, principalmente quando seu propósito não é claro ou não foi comunicado da forma correta, ou ainda quando há a suspeita de que ela está sendo utilizada para outros fins além do propósito estabelecido. 

Portanto, o primeiro passo seria a transparência. Isso significa que as empresas deveriam disponibilizar aos funcionários os dados que são coletados sobre eles e capacitá-los de forma que eles possam analisar essas informações. A partir disso, os próprios trabalhadores poderão tomar decisões sobre seu desenvolvimento pessoal e profissional. 

Segundo o relatório, é preciso adotar uma nova cultura que questione as consequências e veracidades dos dados para que eles possam beneficiar tanto as empresas como os funcionários.

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