Não é novidade para ninguém que o Brasil é o maior mercado de games da América Latina. Dos 211,8 milhões de habitantes, aproximadamente 75,7 milhões são pessoas consideradas “players”. Majoritariamente, quem movimenta essa indústria são as grandes desenvolvedoras, como Sony, Microsoft e Nintendo. Entretanto, de uma década para cá, pequenas empresas desenvolvedoras vêm imprimindo sua marca nesse mercado.
Estamos falando da criação de jogos independentes — ou indie, como são chamados. São jogos produzidos por apenas uma pessoa ou equipe pequena e com recursos limitados, o que faz com que sejam mais simples e não tenham amarras comerciais e preços abusivos, como ocorre muitas vezes. Apesar de não apresentarem grandes gráficos e recursos tecnológicos, ainda assim eles conseguem impactar profundamente quem os joga.
Vamos conhecer alguns jogos indie essenciais para qualquer pessoa que queira entender melhor esse mercado? Confira!
Undertale
Uma lista de jogos indie não pode deixar de citar Undertale. Esse simpático jogo tem um plot bem simples: houve uma guerra entre humanos e monstros, culminando no banimento e enclausuramento de todos os monstros no submundo. Você é um humano que sobe um determinado monte e acaba caindo nesse submundo.
Apesar do enredo não parecer nada surpreendente, o que segura a pessoa jogadora é a relação com os personagens. Carismáticos, engraçados e mais humanos do que se imagina, não seria surpresa se Undertale conseguisse arrancar até mesmo lágrimas. Além disso, a trilha sonora de tirar o folêgo.
A jogabilidade de Undertale também é cem por cento original. A mecânica utilizada é semelhante a jogos antigos e famosos como Earthbound, valendo-se do mesmo sistema de batalhas em turno. O que é interessante em Undertale é que você não precisa matar o monstro ou inimigo, você pode simplesmente conversar com ele, entendê-lo e poupá-lo.
Outro ponto notável em Undertale é o fato de que o jogo quebra a quarta parede e interage diretamente com a pessoa jogadora, valendo-se também da metalinguagem para retratar as funções básicas de um jogo, como o Save Point.
O jogo foi criado a partir da Engine GameMaker Studio e está disponível em diversas plataformas, desde Windows a PS4. Não se deixe enganar pelos gráficos simples: o sentimento é real.
Gone Home
Uma casa vazia, ninguém por perto e uma história que não vai ser contada se você não for atrás dela: esse é Gone Home, jogo indie desenvolvido inicialmente na HPL Engine 2 e finalizada na Unity 4.
Nesse jogo, você é integrante de uma família que simplesmente desapareceu quando você voltou de viagem. Seu objetivo: andar pela casa e revistar cada canto, cada objeto, encaixando as peças no lugar e montando a narrativa. Gone Home é um jogo em primeira pessoa e pode ser considerado uma experiência para a pessoa que joga, já que o tempo de gameplay vai depender totalmente da paciência e curiosidade dela.
A arte do jogo é encantadora e apresenta elementos nostálgicos da década de 90. A atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, acolhedora, garante que a experiência seja única. Muitas pessoas também evidenciam o fato de que Gone Home faz parte de uma corrente de jogos que são considerados manifestações artísticas. É um jogo indie que certamente merece ser jogado.
The Witness
Esse é mais um jogo que pode ser considerado uma obra de arte: The Witness é sobre visual: seu criador, Jonathan Blow, considerado um dos pais dos jogos indie com o lançamento anterior, Braid, desenvolveu uma engine própria para esse game.
A ideia de The Witness é ter o menor auxílio de linguagem verbal possível. Grande parte das descobertas e realizações que a pessoa jogadora obtiver no jogo será por meio de muita observação e raciocínio. O jogo é essencialmente formado por 650 quebra-cabeças que vão utilizar todos os elementos visuais e naturais de uma ilha — que é deslumbrante.
Apesar dos quebra-cabeças seguirem sempre a mesma premissa e apresentarem uma aparência simples, a dificuldade pode ser bem desafiadora. The Witness é um jogo que fascina e envolve qualquer um que cruze seu caminho.
Papers, Please
Já imaginou como seria estar na pele de uma pessoa que trabalha na fronteira de países que estão em conflito? Lucas Pope já! O criador de Papers, Please foi grandemente premiado e reconhecido por este jogo no qual ele foi o artista, o desenvolvedor e o designer. Assim como os outros jogos citados acima, esse também se enquadra na categoria de jogo como uma forma de arte.
Papers, Please funciona no estilo simulação: você atua como uma pessoa funcionária da fronteira de um país fictício, de uma realidade distópica, com diversos conflitos políticos e sociais. Sua tarefa é analisar papelada e autorizar ou negar a entrada de pessoas. Obviamente, nada é assim tão fácil. O jogo vai no limite para testar sua empatia e honestidade, deturpando os sentidos do que é certo e errado.
Entre um turno e outro, você precisa gerenciar os recursos financeiros escassos que você recebe e decidir entre, por exemplo, pagar o aquecimento ou a comida para sua família. Papers, Please é um jogo que leva a pessoa jogadora a situações devastadoras. Portanto, espere enfrentar situações bem complicadas!
Return of the Obra Dinn
Return of the Obra Dinn é o segundo jogo desenvolvido e produzido completamente por Lucas Pope. Desta vez, ele coloca você como pessoa que deve inspecionar um navio fantasma que ficou 5 anos desaparecido. Utilizando uma bússola capaz de mostrar a causa da morte de um cadáver, você deve viajar pelas memórias do Navio recontando a história, deduzindo nomes e dando destino para todos os sessenta membros desaparecidos da equipe.
O mais inspirador nesse jogo é que ele leva o minimalismo a sério. Lucas Pope desenvolveu esse jogo indie utilizando um visual monocromático 1-bit, inspirado nos antigos monitores de computadores Macintosh. Return of the Obra Dinn leva a pessoa jogadora a uma experiência fora do comum, exigindo toda capacidade de observação e dedução possível. É o jogo ideal para passar horas e horas quebrando a cabeça com colegas.
Thimbleweed Park
Se você for uma pessoa gamer da década de 90, muito provavelmente esbarrou com Maniac Mansion e The Secret of Monkey Island. Thimbleweed Park segue o mesmo padrão visual e a mesma mecânica, afinal, os criadores também são Ron Gilbert e Gary Winnick. Assim como outros do mesmo formato, Thimbleweed Park foi desenvolvido em C/C++, portanto com engine própria.
Thimbleweed Park é um jogo repleto de sarcasmo e humor, com personagens icônicos. O plot central gira em torno de dois agentes do FBI que vão até a cidade que nomeia o jogo para investigar um assassinato. A trama, então, começa a envolver outros personagens ao redor da história central.
Como os outros jogos do mesmo gênero da década de 90, Thimbleweed Park tem os mesmo gráficos e estilos visuais, além da central de ações que podem ser utilizadas para interagir com objetos, como “Pick up” (pegar), “Look at” (olhar para) e “Talk to” (Fale com). Esse jogo tem perspectiva em terceira pessoa.
Cuphead
Ainda se tratando de jogos indie com estilos de arte irreverentes, temos Cuphead marcando presença nessa lista. O jogo no gênero run-and-gun (corra e atire) é inspirado nos estilos de animação norte-americanos da década de 30, com um toque de subversão e surrealismo. O jogo é conhecido por sua gameplay fluida, uma vez que utiliza uma frequência de quadros de 60fps. Ele é mais um exemplo de game desenvolvido com a engine Unity.
Diferentemente de qualquer outro jogo indie nessa lista, Cuphead comporta até duas pessoas na mesma tela. O jogo é composto por uma sequência de desafiadores boss fights (lutas com chefes) em que você deve correr, se esquivar e atirar. O plot envolve Cuphead e seu irmão, Mugman perdendo uma aposta para o diabo. Para evitar ter sua alma levada, eles devem coletar o contrato de alma de outros devedores. É óbvio que essa não será uma tarefa fácil!
O jogo foi um sucesso, vendendo seis milhões de cópias em três anos. Seu alcance foi tamanho que uma série animada está em produção e será disponibilizada na Netflix.
The Stanley Parable
The Stanley Parable é um jogo cujo verdadeiro protagonista é o narrador. Assim como Gone Home, esse jogo indie é um walking simulator em que não há nenhuma outra ação além de andar e seguir a história. A pessoa jogadora deve guiar o protagonista silencioso, Stanley, através da narração do ator britânico Kevan Brighting, ou recusar-se a fazê-lo e sofrer as consequências de um narrador enfurecido.
The Stanley Parable é um perfeito exemplo de metalinguagem dentro dos games e também é considerado um game artístico. Seu humor é irônico e regado de comentários ácidos semelhantes ao da inteligência artificial GLaDOS da série Portal. O jogo pode ser levado por diversos caminhos, resultando em um série de diferentes finais.
O jogo indie inicialmente foi lançado como um mod gratuito de Half-Life 2. Anos depois, The Stanley Parable ressurgiu a partir de um remake feito pela Source Engine com novos elementos e gráficos melhorados.
Baba Is You
Se tem um jogo indie que leva a lógica de programação a sério, esse jogo é Baba Is You. Assim como o título indica, você controla um personagem chamado Baba — pelo menos enquanto essa sentença estiver junta! Cada nível é um quebra-cabeças diferente com objetivos diferentes. Tudo na fase, desde o objetivo até o que a pessoa jogadora controlará, é definido por operadores lógicos.
Se Baba É Você, então você controla Baba. Porém, se Parede É Você, você deve controlar a parede! Se Bandeira É Vencer, seu objetivo é chegar até ela, porém, ao empurrar blocos, isso pode mudar!
O jogo é incrível para pessoas que estão aprendendo a programar e querem entender como funciona melhor a lógica da programação, uma vez que as regras do jogo podem mudar a todo instante, a depender de quais proposições são verdadeiras. Você só poderá empurrar se essa função estiver conectada a algum objeto, e a parede só irá te parar se ela estiver sob efeito da ação parar. No demais, como visual e trilha sonora, o jogo é bem simples, não anulando sua genialidade.
INSIDE
INSIDE é o irmão mais novo de um famoso jogo indie de 2010 chamado Limbo. Esse jogo é do gênero plataforma e quebra-cabeças com visão em pseudo 3D. Nele, seu objetivo é guiar um garoto por um mundo distópico evitando sua morte.
Inicialmente, o jogo seria desenvolvido usando a antiga engine de Limbo, porém optou-se por mudar para a engine Unity, facilitando seu desenvolvimento. Posteriormente, as rotinas de renderização próprias foram liberadas como código aberto.
Na maior parte das vezes, o jogo é silencioso e escuro, criando uma atmosfera de tensão. A pessoa jogadora é levada a agir sem fazer muitas perguntas em relação ao enredo, que só se revela no final, com uma reviravolta chocante. O final é bem amplo e aberto a diferentes interpretações, o que faz de INSIDE um jogo inteligente, dramático e artístico.
Seja você uma pessoa gamer ou desenvolvedora de jogos, acompanhar o mercado de jogos indie é imprescindível, já que ele está constantemente crescendo e se desenvolvendo. Atualmente, jogos indie são referência no mercado, batendo muitas vezes os números dos jogos feitos por grandes empresas com numerosas equipes. Além disso, a simplicidade e limitação técnica dos jogos indie faz com que outros elementos sejam explorados, aproximando-os do status e prestígio de grandes obras de arte contemporâneas.
Gostou do nosso artigo sobre jogos indie? Que tal agora conhecer The Social Dilemma, o novo documentário polêmico da Netflix?